Se a década de 1990 foi sobre sobreviver à abertura comercial e a de 2000 sobre expandir a fronteira agrícola, os anos 2000 foram sobre intensificar e otimizar a produção. A Agricultura de Precisão (AP) deixou de ser um conceito de futuro para se tornar uma ferramenta presente nas propriedades mais modernas, inaugurando uma era de gestão baseada em dados.

No início dos anos 2000, a agricultura brasileira já era produtiva, mas ainda operava com um alto grau de generalização. A aplicação de insumos como sementes, fertilizantes e corretivos era feita de forma uniforme em talhões muitas vezes heterogêneos. O manejo era baseado na média da propriedade, o que gerava desperdício e perda de potencial produtivo.

A introdução do GPS de baixa precisão e depois do sinal diferencial (DGPS) permitiu os primeiros mapas de colheita. Pela primeira vez, o produtor pode visualizar, com coordenadas geográficas, a variabilidade de produtividade dentro da sua própria lavoura. Esse foi o insight inicial que demonstrou que tratar a lavoura como um todo uniforme era ineficiente.

A comparação entre o manejo tradicional e o de precisão tornou-se clara. Antes, um talhão com solo arenoso e solo argiloso recebia a mesma dose de fertilizante. Com a AP, a amostragem de solo georreferenciada permitiu a geração de mapas de fertilidade, que por sua vez guiaram as distribuidoras a aplicar mais nutrientes onde o solo era pobre e menos onde era rico.

A pulverização localizada de herbicidas, guiada por sensores que detectavam a presença de plantas daninhas, começou a ganhar espaço. Isso representou uma economia monumental de defensivos, reduziu o impacto ambiental e mitigou o problema da resistência de plantas daninhas, que se agravava com aplicações em área total.

O piloto automático, inicialmente um item de conforto, revelou-se uma ferramenta de grande ganho econômico. Ao eliminar sobreposições e falhas no plantio e na aplicação de insumos, o piloto automático gerava economias diretas de até 10% em sementes, fertilizantes e combustível, pagando seu investimento em poucas safras.

Ao final da década, a Agricultura de Precisão já não era um luxo, mas uma necessidade competitiva para as médias e grandes propriedades. A mentalidade do produtor mudou: a busca cega por produtividade máxima deu lugar à busca pela produtividade ótima, com o menor custo possível por saca produzida.

Assim, os anos 2000 consolidaram a agricultura brasileira como não apenas produtiva, mas também eficiente. A gestão por dados permitiu extrair mais dos mesmos recursos, contendo custos de produção e aumentando a rentabilidade, garantindo a sustentabilidade econômica do modelo em um contexto de volatilidade de preços.